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Mariana Calaça Baptista - Arquitecta, Urbanista e Consultora

Mariana Calaça Baptista

Arquitecta, Urbanista e Consultora

Mariana Calaça Baptista é arquitecta, urbanista e consultora (na implementação de projectos rentáveis ​​nas áreas do Património, Turismo, Comunicação e Cultura). É também cronista regular do jornal digital Moondo, pivot local da ADBD Communicare e secretária da Direcção da Centro de Portugal Film Commission.

Tem uma carteira com mais de 30 clientes até à data e, nos últimos seis anos, tem dedicado o seu tempo a alavancar projectos culturais e criativos com base em conceitos multidisciplinares.

Licenciada em Arquitectura pela Universidade Lusíada, especializada em Património Arquitectónico e Urbano pela ETSAM da Universidade Politécnica de Madrid, especializada em Empreendedorismo em Turismo Cultural e Paisagístico pelo ISCTE e mestre em Gestão Cultural pela Escola Superior de Artes e Design, Mariana Calaça Baptista é uma das convidadas especiais na Connecting Stories da PARTTEAM & OEMKIOSKS.

1. A Mariana tem um percurso profissional muito diversificado. Pode falar-nos um pouco sobre a sua jornada e sobre a sua experiência profissional?

A minha jornada começou com a minha formação nas indústrias criativas, em arquitectura, na componente de protecção de património arquitectónico e urbano. Após a minha formação em Portugal, fiz um Mestrado em Madrid, o que me possibilitou ingressar na DGEMN (Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais). Aí tive oportunidade de trabalhar nos inventários dos conjuntos urbanos da Baixa Pombalina, Chiado, Rua de São Paulo, Baixa de Coimbra (Rua Sofia), entre outros conjuntos urbanos e edifícios patrimoniais como castelos, palácios e quintas um pouco por todo o país. Foi um início profissional que me deu o gosto pelo rigor e pela nossa história que, contada pelos olhos de uma investigadora em património, me permitiu conhecer o lado mais rico da nossa herança material, em que a matéria conta histórias.

Em 2007, a DGEMN fecha as suas portas e o Estado faz a fusão de vários gabinetes, nomeadamente com o então IGESPAR e o IHRU. Os precários foram convidados a sair e eu, sendo uma delas, vi a minha especialidade enquanto diagnóstico de patologia construtiva em conjuntos urbanos resumida à Sala da Carta de Risco, cuja saída profissional fora daquela instituição apenas se resumia a áreas que não eram do meu agrado, como as peritagens de seguradoras ou as então iniciais auditorias energéticas. Sem a componente do património e sem grande vocação para o lado mais rígido da construção, ainda experimentei trabalhar num gabinete de projectos, mas sem ser mais Júnior e a trabalhar 14 horas por dia em frente a um computador a exercitar um programa de desenho, não sentia nenhuma apetência especial que me fizesse ficar na área a preço quase gratuito. Nesse momento, a questão da sustentabilidade falou mais alto e resolvi experimentar a área comercial.

Nas minhas viagens à zona Oeste, e após uma candidatura espontânea a um dono de um Turismo de Habitação em Óbidos, nem eu imaginava que num dos momentos de maior stress profissional em pleno desempenho de coordenação de um gabinete com vários colegas da área, e após ser identificada duas vezes, em apenas duas semanas em excesso de velocidade, a questão deixara de ser a sustentabilidade e passou a ser a qualidade. Notoriamente, quando esse evento aconteceu, o dono do Turismo de Habitação ligou-me e perguntou-me se eu estaria interessada em abandonar Lisboa. A resposta foi bastante célere e em três dias mudei de vida. Aqui a questão da qualidade falou mais alto.

Mariana Calaça Baptista - Arquitecta, Urbanista e Consultora - Connecting Stories PARTTEAM & OEMKIOSKS
Créditos: Ágata Wiórko da Câmara

Já no Oeste, tive a oportunidade de pela mão do Sr. Coronel Fernando Sarmento, poder aprender o que me foi necessário no início da minha carreia de gestora de uma unidade de alojamento, a Casa d’Óbidos, e foi aí que fiquei por cinco anos, durante o período do último resgate do FMI.

Não vacilando, e porque senti ser necessário fazer formação na área, frequentei o Seminário de Empreendedorismo em Turismo Cultural e Paisagístico do ISCTE, cujo foco seria criar uma ideia de negócio na área do turismo. Foi muito oportuno o desafio e, em conjunto com uma equipa de criativos da ESAD liderada pelo mentor da Associação Destino Caldas, Nicola Henriques, acabámos por ganhar o primeiro prémio da competição em causa do curso, cujo júri era o Turismo de Portugal, o Iapmei, o CCB e a Portugal Ventures.

Em regime interno e depois de falar com milhares de pessoas, de todo o mundo, ao longo dos cinco anos que permaneci na Casa d’Óbidos, decidi sair e criar o meu projecto www.marianacalacabaptista.pt onde me comprometi comigo mesma a posicionar-me nas áreas que me apaixonam e de poder trabalhar de acordo com os meus códigos de ética e de vida: respeitar o próximo no seu tempo e no seu valor e trabalhar em projectos de paixão, com pessoas francamente boas e com foco em oportunidades que valorizam o património humano de cada um de nós.

Viria mais tarde a mestrar pela ESAD em Gestão Cultural. Assim, desde 2015 que exerço a actividade de consultoria e serviços em Património, Comunicação, Turismo e Cultura, que são áreas que caminham lado a lado. Já “abri” hotéis, restaurantes, casas de alojamento local, carpintarias, etc. Sou uma apaixonada por tornar os projectos viáveis financeiramente, ainda que por vezes a utopia possa levar a melhor. Ainda a parceria com entidades que muito me honram pela aposta em mim, nomeadamente a Associação Destino Caldas, a Associação Centro Portugal Film Commission, a Build The City, a ADBD Communicare, a Cenas de Teatro e os Municípios, com quem tenho o orgulho de sonhar em conjunto por um mundo melhor. Neste percurso sou ainda a Embaixadora da Mais Negócio no Oeste, porque sinto ser importante ajudar a abrir portas e poder conhecer novas parcerias na região onde vivo.

A sustentabilidade das cidades, com o apoio das ferramentas de gestão urbana, parece-me ser o grande benefício das Smart Cities.

E finalmente, porque para mim trabalhar em equipa é fundamental, e a relação 1x1 a base de uma boa convivência em comunidade, com a participação no CREATOUR em parceria com a Associação Destino Caldas e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, desenvolvemos um projecto nas Caldas da Rainha, que vai ao encontro das boas práticas de Turismo Criativo, e temos vindo a desenvolver iniciativas de ampliar esse piloto e o nosso posicionamento um pouco por todo o país. Enquanto autora, escrevo com regularidade para alguns meios nacionais e internacionais nos quais dou a minha opinião sobre a forma como vejo o Turismo e a Cultura no meu país.

2. A consultoria parece ser uma parte muito importante da sua vida. O que a fez enveredar por esta área, tendo em conta a sua formação?

Trabalhar com foco na sustentabilidade dos projectos sempre foi fundamental para mim, desde o momento em que ainda a trabalhar em arquitectura não ganhava dinheiro para pagar a renda de casa.

Há lições que, quando se aprendem uma vez na vida, bastam para sempre, sabendo que, se quero realizar projectos diferenciados, tenho de aparecer com a chave na mão junto do meu cliente, de forma a ser incontornável a sua operacionalização.

Procuro sempre encontrar soluções criativas e viáveis para questões desafiantes com base no empreendedorismo e numa postura “hands on”. Acredito que a minha experiência multidisciplinar me dá uma visão concertada do sector, com especial enfoque na criatividade, cultura e turismo, tendo para isso a ferramenta da comunicação para alavancar os resultados dessas iniciativas.

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Créditos: Ágata Wiórko da Câmara

3. Como concilia esta função com tantas outras responsabilidades?

Tenho a vantagem de poder dedicar-me inteiramente ao meu trabalho e de o fazer com pessoas que admiro. Faço-o por gosto e, claro, que sempre se arranja tempo para os projectos que abrem novas janelas de oportunidade e nos quais sabemos ser importante o nosso contributo.

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Créditos: Ágata Wiórko da Câmara

4. Refere, na sua página web, que tem “um grande foco no empreendedorismo em geral”. Como encara o empreendedorismo na actualidade e em Portugal, mais especificamente?

Houve um boom de empreendedorismo, com o surgimento das fábricas de startups após a grande crise de 2012, numa série de novas ideias e de novos produtos cheios de narrativas apaixonantes e de uma auto-estima reforçada um pouco por todo o nosso país, que muito me orgulham. Essas oportunidades de formação alavancaram muitas ideias de negócio, algumas com sucesso especificamente bafejadas pelo advento do turismo até finais de 2019.

Depois há o constrangimento da COVID, que trouxe uma série de novas oportunidades e desafios, aos quais teremos de nos habituar, porque sou da opinião que o mundo mudou para sempre, e nesse sentido todos nós teremos de aprender a caminhar neste mundo em que ainda estamos a aprender a sobreviver, mas no qual o mais sábio é aquele que se adapta melhor.

Os territórios de baixa densidade são para mim o futuro e é neles que aposto parte dos meus projectos. Acredito que o êxodo urbano irá ser cada vez maior e a procura por uma vida mais slow irá ser uma tendência. Hoje, cada computador é uma cidade em potência nas nossas mãos e com a globalização do digital, cada vez mais será possível resolver tudo o que é burocrático através de plataformas.

O impulso que a Amazon deu no mundo da logística descentralizou por completo o acto de compra de produtos e aos dias de hoje não há lugares isolados. Resta-nos o que é gregário e físico, e o que o nosso corpo físico nos exige, como a vida social, o entretenimento e a cultura, que teremos ainda de reinventar de forma gratificante neste novo contexto novo para todos nós. Tenho grandes esperanças de que o metaverso não irá ganhar esta corrida e que iremos continuar a resolver essa necessidade social e gregária, ao redor de uma mesa com amigos.

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Créditos: Ágata Wiórko da Câmara

5. Como arquitecta e urbanista, quais considera que são os principais benefícios das Smart Cities?

A sustentabilidade das cidades, com o apoio das ferramentas de gestão urbana, parece-me ser o grande benefício das Smart Cities. Nesse contexto, os três valores da sustentabilidade (económica, social e ambiental) são um equilíbrio para o qual o mundo tem de convergir forçosamente, porque os balanços demográficos irão mudar a cultura social tal como a conhecemos, com os fenómenos da migração. E, nesta transição digital, o mundo dentro de 10 anos será drasticamente diferente da actualidade.

Julgo que as ferramentas de gestão das cidades e do diálogo, cada vez mais intercultural, irão ter um papel crucial na democracia urbana e nesse equilíbrio de uma sociedade cada vez mais anónima. As democracias são um sistema cada vez mais a ficar em desuso, com o avanço da tecnologia e da IA que avança em força para o nosso quotidiano, implicando uma governança cada vez mais ancorada nos dados. Caminhamos forçosamente para o “iluminismo democrático”.

O rigor da informação e a verdade são conceitos que são uma necessidade/obrigação, que a evolução científica imprimiu na sociedade e que nos aproxima da paz e da tolerância. Cruzam a sociedade desde a nanotecnologia médica, à agricultura, transportes, à própria governança, sendo assim cada vez mais fundamental ser também uma realidade na tomada de decisões da gestão dos territórios.

A minha cidade mudou em plena pandemia. De uma semana para a outra, as migrações sazonais dos trabalhadores temporários do sector agrícola mudaram o panorama social e, até à data, esses migrantes permanecem por cá sem sabermos do que vivem e como vivem, tomando conta do centro urbano que foi abandonado vários anos pelos seus proprietários.

Autarcas politizados perderam as eleições, quando tudo indicava uma continuidade, deixando decisões estratégicas nas mãos de um executivo novo independente, cuja boa vontade ainda não conseguiu dominar os temas da ordem do dia pela dimensão dos dossiers.

Falamos de desafios como a grande deslocação de comunidades para a Europa, o aquecimento global, o advento da Inteligência Artificial, a digitalização versus o analfabetismo digital e o envelhecimento da população europeia com um enorme défice demográfico. Os desafios societais irão ser cada vez maiores na segurança, no saneamento, na gestão de tráfego, nos resíduos urbanos, na educação, etc. E, para isso, será fundamental que a tecnologia possa desempenhar tarefas que cada vez menos pessoas estão motivadas para desempenhar. A mão de obra escasseia e é preciso canalizá-la para as tarefas onde a obrigatoriedade de discernimento humano e a relação com o meio implicam um raciocínio mais do que lógico e empático. Para isso existimos nós, os seres humanos, cujo raciocínio permite tomadas de decisão com base na ética e que sejam baseadas na análise dos dados.

Caminhamos para um mundo mais verde e mais controlado do ponto de vista social.

6. De que forma é que as Smart Cities podem melhorar a qualidade de vida da população?

As ferramentas de inteligência urbanas foram projectadas para apurar com rigor a gestão das grandes metrópoles, sem as quais as medições e os parâmetros de avaliação (social, ambiental e económica), os da sustentabilidade, portanto, seria impensável ter a qualidade de vida à qual nos habituámos, com o rigor e a assertividade das medidas necessárias. Poder parametrizar a máquina que está por detrás da gestão da cidade é algo absolutamente fundamental e sem o qual nenhuma cidade pode viver com os desafios da pressão actual e que permita aos autarcas poderem tomar boas decisões, com o menor custo para os contribuintes.

7. Como crê que serão as cidades do futuro com base na sua experiência profissional?

Caminhamos para um mundo mais verde e mais controlado do ponto de vista social. Obrigatoriamente que iremos perder alguns privilégios e o mundo, na próxima década, enfrenta desafios absolutamente cruciais que irão determinar a qualidade de vida das gerações futuras. Acredito que vamos superar, mas não sei se no tempo certo e com a expectativa actual da COP26. O mundo está muito desequilibrado e certamente que os países mais industrializados terão de fazer as “honras da casa” para que haja uma certa paz social. As migrações cada vez maiores e a pressão sobre a Europa é um dos maiores desafios da contemporaneidade. Acredito que rapidamente irá existir um novo paradigma social que irá mudar drasticamente as nossas sociedades actuais, com novas dinâmicas de comunidade, com a gentrificação das cidades e a globalização um pouco por todo o lado. É preciso ter coragem para regular o mercado e encontrar soluções.

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Créditos: Ágata Wiórko da Câmara

8. Foi reconhecida com o prémio “Play West”. O que significa este reconhecimento para si?

Foi uma enorme alegria poder ter usufruído dessa experiência. Acredito que são oportunidades que nos abrem portas e nos motivam de forma importante para o que verdadeiramente queremos ser no futuro. Dá-nos força, essencialmente, mesmo quando são projectos inviáveis de implementar pelo custo/oportunidade. Também aprendi que, por vezes, é necessário ter a coragem de não investir em projectos demasiadamente avançados no seu tempo, para os quais o mercado não está preparado.

O digital irá definitivamente conquistar o espaço público.

9. Que planos tem em mente para o futuro?

Trabalhar de forma remota e localizada na minha cidade, as Caldas da Rainha, para territórios com desafios societais, que me permitam aprender mais. Adaptar-me às novas formas de entender e respeitar o mundo e permitir que me ajudem a ser melhor pessoa a cada dia. Também me apraz desbloquear iniciativas que possam, com base na criatividade, criar novas oportunidades, nomeadamente através do Turismo Criativo, que trabalha em contraposição à hiper industrialização.

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Créditos: Ágata Wiórko da Câmara

10. Sendo a PARTTEAM & OEMKIOSKS uma empresa que desenvolve e fabrica quiosques multimédia, equipamentos self-service, mupis digitais, mesas interactivas e outras soluções digitais para todo o tipo de indústrias e a nível internacional, de que forma é que estes equipamentos e a tecnologia no geral podem contribuir para o desenvolvimento de Cidades Inteligentes e Sustentáveis?

Sempre que, de forma intuitiva, possam ser plataformas de mediação com os cidadãos e que de forma didáctica consigam informar entretendo. As cidades Inteligentes e Sustentáveis serão mais animadas e mais informadas sem dúvida. Certamente que o digital irá definitivamente conquistar o espaço público e será normal passarmos a ter mupis animados com imagens interactivas de forma massiva.

As marcas irão pressionar essa aceleração e a publicidade será mais ágil e mais assertiva criando uma noção de cidade disneyficada ou animada. Cabe-nos a nós decidir. A imagem de “Times Square” poderá ser uma referência para o mundo.

Acredito também que o sector dos suportes digitais irá criar uma melhor comunicação ao nível dos serviços públicos, educacionais, saúde pública, serviços médicos e que haverá um enorme benefício nesse contexto.

Connecting Stories é um espaço editorial conduzido pela PARTTEAM & OEMKIOSKS que consiste na realização de entrevistas exclusivas, direccionadas a personalidades influentes, que actuam em diferentes sectores de actividade.

O projecto, idealizado pela PARTTEAM & OEMKIOSKS, contempla a publicação de histórias de sucesso, por meio de pequenas entrevistas a influenciadores que queiram compartilhar detalhes sobre os seus projectos, opiniões, planos para o futuro, entre outros assuntos.

A ideia é conectar histórias, partilhar conhecimento, desenvolver networking e gerar conteúdos que possam fornecer novas visões, oportunidades e ideias.

Sobre a PARTTEAM & OEMKIOSKS

Fundada em 2000, a PARTTEAM & OEMKIOSKS é uma empresa portuguesa de TI mundialmente reconhecida, fabricante de quiosques multimédia de interior e exterior, equipamentos self-service, mupis digitais, mesas interactivas e outras soluções digitais, para todos os tipos de sectores e indústrias. Para saber mais acerca da nossa história, clique aqui.

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