Nico Mulder

1. O Nico tem um percurso profissional muito vasto. Pode falar-nos um pouco sobre a sua jornada e sobre a sua experiência profissional?

Alguns anos mais tarde, o Conselho Cultural fundiu-se com a Amsterdam Marketing, tornando-se uma DMO (organização de marketing de destino, responsável pelo marketing da cidade de Amesterdão). Passei alguns anos como gestor de marketing, o que me levou a ser um estratega e consultor de marketing.

Em 2019, deixei a empresa, tendo passado 10 anos a trabalhar para a Amsterdam (o que ainda vejo como um grande período). Tinha chegado à conclusão que estava na altura de seguir em frente. Usar os meus conhecimentos e perícia para mais destinos, para criar melhores lugares em todo o mundo. É basicamente assim que agora oriento os destinos sobre estratégias de branding de lugares (e tendo em conta o seu intuito de se tornarem mais sustentáveis).

2. Quais são os principais serviços e metodologias da mulder?

Nós oferecemos uma vasta gama de serviços, desde a estratégia até à execução (branding e marketing). Dependendo das exigências e desafios do local, coopero com muitos consultores criativos e/ou directores de arte e comerciantes, tudo sob a minha/nossa supervisão e estratégia global.

A nossa principal competência reside na estratégia de branding de lugar e (implementação de) turismo sustentável. Lugares de todo o mundo estão (ou deveriam estar) a questionar-se: o que nos torna únicos, o que nos distingue (em comparação com os outros) e, talvez ainda mais importante, como podemos fazer melhor uso do nosso ADN distintivo, para que não (apenas) nos concentremos em atrair cada vez mais e mais turistas, mas para usar o turismo como uma ferramenta para criar um lugar melhor. Para lá chegar, realizamos entrevistas, fazemos investigação, organizamos sessões de co-criação (com residentes, interessados e/ou turistas/visitantes, etc.) e utilizamos todos os contributos que recolhemos para criar melhores estratégias (de branding) para os lugares. Melhores estratégias para assegurar que os residentes possam ter ou manter um nível de habitabilidade, por um lado, e ser atraentes para os visitantes, por outro. Assim, ao moldarmos estas estratégias de branding de lugares, procuramos e implementamos formas práticas, ferramentas, soluções, programas e/ou campanhas para criar turismo sustentável. Neste sentido, o turismo pode ser utilizado como uma força para um melhor impacto para estes locais. Não deve (já) ser uma questão de consumo, precisamos de nos empenhar em contribuir, em turismo regenerativo.

3. De que forma é que a mulder contribui para a sustentabilidade urbana?

Dependendo da situação dos clientes/locais e das exigências, concentramo-nos em 3-5 prioridades principais. Sendo estas prioridades muitas vezes coerentes, criámos um quadro estratégico e integral de a) desafios principais, levando a b) soluções ou programas práticos e c) objectivos e métricas específicas.

A nossa meta é elevada (com a nossa estratégia ou visão global), mas começamos por baixo (com passos práticos para trabalhar). É o único caminho em que acredito. É essencial, dentro do branding do lugar e do turismo sustentável, concentrarmo-nos na cooperação e na responsabilização. Um lugar não é propriedade de ninguém e é de todos ao mesmo tempo. Apenas um exemplo: para um destino na Grécia, estamos agora a organizar sessões de co-criação com as partes interessadas, e ficou claro que falta a este lugar uma agência central/DMO ou departamento do governo local a partir do qual todas as políticas e medidas de turismo tenham lugar. Assim, para criar uma estratégia coerente e eficiente de branding do local que conduza a um turismo (mais) sustentável, estamos agora na fase de criação de uma agência deste tipo e a especificar os seus KPI's.

4. Como é que surgiu o interesse pela área do Marketing?

Para ser honesto, nunca gostei muito do termo "marketing". Ou pelo menos, não gosto muito da forma como o próprio marketing é percebido.

Para mim, numa fase inicial da minha vida, fiquei interessado em lugares e pessoas. O olhar e a sensação que alguns destes lugares têm. E as histórias e os antecedentes que estas pessoas têm. São sempre as pessoas que trazem cor aos lugares. Isso torna-os mais brilhantes. Por isso, pode-se dizer que eu estava/e ainda estou muito interessado nestas histórias e, por isso, o storytelling tornou-se uma das minhas especialidades. Um determinado lugar deve sempre procurar o seu ADN e desse ADN (ou o contrário) são todas estas histórias que distinguem esse lugar. Berlim tem um sentimento diferente do de Lisboa. E Lisboa é diferente da cidade do Porto. Isto é o que mais me interessa, penso eu.

5. Como podemos relacionar o Marketing e a temática da Sustentabilidade?

Penso que existe uma enorme necessidade de os marketers se tornarem pioneiros, inovadores e de utilizarem e implementarem os SDG’s nas suas estratégias e actividades. Para mim, o marketing não é, ou pelo menos não deveria ser (apenas) sobre conseguir mais clientes, mais turistas, mais, mais, mais... Deve ser sobre a experiência que podemos oferecer aos nossos utilizadores.

Portanto, olhando para o marketing de uma perspectiva de cidade ou lugar: como podemos criar um lugar melhor para os nossos habitantes (pelo turismo)? E como podemos criar uma experiência melhor para os nossos visitantes? Eu acredito verdadeiramente que menos (visitantes) é por vezes realmente mais. "Mais" como num nível mais elevado de habitabilidade e também num nível mais elevado de satisfação.

Não me estou propriamente a divertir em Barcelona quando estou preso no trânsito com o meu tempo limitado, a comer más tapas numa atmosfera predominantemente turística e a esperar na fila para o Parque Güell ou para o museu Miró. Os locais devem concentrar-se na criação de melhores experiências que beneficiarão os objectivos de sustentabilidade.

6. Recebeu o prémio “UNWTO Ulysses Award”. O que significa este reconhecimento para si?

Estranhamente, significou muito e pouco ao mesmo tempo. Foi óptimo ser recompensado e obter o reconhecimento de todo o trabalho que investimos nesse projecto e nessa campanha. Mas, no final, fiquei mais orgulhoso quando descobrimos que os visitantes estavam realmente envolvidos com as actividades nas áreas circundantes devido aos nossos esforços.

É claro que estes prémios são excelentes, mas a leitura de comentários positivos dos nossos clientes/visitantes fez-me mais feliz. Então, apercebi-me ainda mais que "sim, está realmente a trazer benefícios pessoais e práticos".

7. Que planos tem em mente para o futuro?

Boa questão! Acho que, principalmente devido à COVID-19, percebi (ainda mais) que é bom viver (mais) no momento. Com a minha saída da amsterdam&partners há dois anos, pouco antes do início da COVID-19, não fazia ideia de onde esta aventura me levaria.

E agora, dois anos depois, a agência está a ir tão bem, estou a reformular planos e a pensar em mudar-me para o estrangeiro, em contratar algum pessoal extra, para que possamos servir ainda mais lugares.

De facto, e como disse no início, nem sempre se trata de mais. Estou feliz com o ponto em que me encontro neste momento. Talvez o facto de me ter tornado pai pela primeira vez este ano me tenha tornado mais consciente de como a vida pode ser preciosa. Mas claro, se me perguntarem onde eu e a minha agência estaremos daqui a 10 anos: espero que tenhamos encontrado um escritório num país mediterrâneo, a servir múltiplos lugares de todo o mundo e a ajudar a criar lugares melhores para todos.

8. Sendo a PARTTEAM & OEMKIOSKS uma empresa que desenvolve e fabrica quiosques multimédia, equipamentos self-service, mupis digitais, mesas interactivas e outras soluções digitais para todo o tipo de indústrias e a nível internacional, de que forma é que estes equipamentos e a tecnologia no geral podem contribuir para o desenvolvimento de Cidades Inteligentes e Sustentáveis?

Por falar em criar lugares melhores, resumo sempre "melhores" usando os 3 S: ser inteligente (smart em inglês), social e sustentável. Tudo o que é digital pode realmente ajudar a criar lugares melhores, tanto para residentes como para visitantes.

Pensem no digital a partir de ecrãs domésticos que oferecem opções para reservar um táxi, mesa ou para mostrar a capacidade actual num determinado restaurante ou museu. Pode ser utilizado na gestão de multidões ou como ferramenta para recolher percepções dos consumidores (dispositivo de pesquisa). Além disso, penso que estes são grandes trunfos para os locais que melhoram a viagem do cliente. Um utilizador de um lugar (quer seja um residente ou um visitante) está sempre numa 'viagem'; quem está ciente de um determinado evento está a questionar se deve ou não ir com base na sua reputação. E se for positivamente afectado, um utilizador pode comprá-lo e experimentá-lo. Quando satisfeito, pode tornar-se um defensor (do seu evento ou local). Estas ferramentas podem ser utilizadas ao longo dessa viagem para a melhorar!