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Nuno Andrade - Consultor na SPI - Sociedade Portuguesa de Inovação

Nuno Andrade

Consultor na SPI - Sociedade Portuguesa de Inovação

Com uma carreira que passa, essencialmente, pelo desenvolvimento regional e urbano, Nuno Andrade é consultor de desenvolvimento territorial para projectos nacionais e internacionais na SPI - Sociedade Portuguesa de Inovação.

Nuno Andrade demonstrou sempre um grande interesse pelo estudo do território, bem como pelo impacto das componentes físicas e humanas que o constituem. Atualmente dedica-se ao desenvolvimento de estratégias para a implementação de Cidades Inteligentes, analisando a aplicabilidade de novas soluções tecnológicas no apoio à gestão territorial ao nível municipal.

Licenciado em Geografia Física, mestre em Urbanismo e Ordenamento do Território e com uma pós-graduação em Smart Cities, Nuno Andrade é um dos convidados especiais na Connecting Stories da PARTTEAM & OEMKIOSKS.

* O entrevistado respondeu às questões segundo o novo acordo ortográfico.

1. Pode falar-nos sobre a sua jornada e sobre a sua experiência profissional, bem como das funções que desempenha actualmente?

Atualmente sou consultor sénior na Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI), trabalhando para o setor da Administração Pública, na área do Território, em particular nos projetos de desenvolvimento territorial, planeamento estratégico e instrumentos de gestão territorial. Estou nesta empresa há 7 anos, onde encontrei a oportunidade de desenvolver o meu conhecimento na área do Desenvolvimento do Território e também uma equipa experiente e conhecedora destas matérias. Este enquadramento tem sido fundamental para a minha progressão, ao qual junto a importância do contexto diversificado de projetos e de “geografias” onde os desenvolvemos – arrisco-me a dizer, talvez por defeito, que colaboramos com mais de 50 municípios de todas as regiões de Portugal, às quais se junta a colaboração com as associações e comunidades intermunicipais.

Nuno Andrade - Consultor na SPI - Sociedade Portuguesa de Inovação - Connecting Stories PARTTEAM & OEMKIOSKS

Diria que este conhecimento de diferentes realidades e contextos socioeconómicos tem sido a base da progressão que tive enquanto consultor nesta área de atuação. Também, e já enquanto equipa, temos beneficiado de uma conjuntura positiva de oportunidades de trabalho, proporcionada, em primeira instância, pelos desafios que as políticas de coesão definidas pela União Europeia e seus Estados-membro colocam ciclicamente às regiões e autarquias locais, mas também pela necessidade de apoio externo que muitos dos municípios portugueses apresentam face às múltiplas competências que possuem na gestão administrativa do território.

Só para finalizar este tema, realçar que tivemos a oportunidade de desenvolver alguns projetos financiados pela União Europeia e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, o que nos fez conhecer novas culturas de trabalho e desafios territoriais que nos fazem desenvolver novas abordagens de atuação.

2. Como surgiu o interesse pelo estudo do território e de todas as componentes que o constituem?

Apesar de parecer um pouco cliché, este interesse surge desde criança. A verdade é que desde novo que fui envolvido em associações locais ligadas ao desporto e à cultura e, como tal, fui ganhando relação com o movimento associativo e com a importância que a comunidade local tem em promover a mudança em ações locais. Também sou natural de uma cidade (Ovar), onde esses movimentos associativos são bastante fortes e sempre se uniram na defesa de causas que afetavam a população local. Como tal, essa relação de proximidade e o contexto em que estava inserido contribuíram para esse interesse pela causa pública.

É importante referir que, à medida que fui crescendo e ganhando maturidade para perceber certos assuntos e problemas que contribuem e/ou afetam o desenvolvimento da “terra”, comecei a perceber que caminho teria de trilhar (se quisesse ser um agente de mudança) e, como tal, que áreas científicas teria de conhecer e dominar. Penso que foi um pouco por aí que despontou este interesse.

3. De que forma é que, a seu ver, a SPI - Sociedade Portuguesa de Inovação contribui para o desenvolvimento das Smart Cities?

A SPI, nomeadamente pela estrutura e áreas de atuação que possui, tem vindo a contribuir para o desenvolvimento e implementação deste conceito, principalmente em Portugal, mas não só. Dado o nosso posicionamento junto das autarquias locais portuguesas, no apoio à definição de estratégias de desenvolvimento territorial, sugerimos ações que permitem o desenvolvimento e implementação de soluções tecnológicas para a gestão sustentável e inteligente do território.

Estivemos também na génese do Plano de Implementação e no acompanhamento da instalação de um dos primeiros laboratórios vivos para a descarbonização em Portugal, implementado com o apoio do Fundo Ambiental na Vila de Alenquer, e que, na sua essência, assenta na montagem de um sistema integrado e agregador de soluções tecnológicas para dar resposta aos desafios da população nas áreas temáticas da mobilidade, energia, edifícios, economia circular e ambiente, englobando as pessoas no processo de cocriação. Ou seja, os princípios subjacentes ao conceito de Smart City.

Estamos igualmente envolvidos em vários projetos do Horizonte 2020, financiados pela União Europeia, na temática das “Comunidades e Cidades Inteligentes”. Sendo projetos com uma vertente forte de inovação e teste, de forma a serem escalados e replicados noutros territórios, permitem um estudo aprofundado da temática e permitem conhecer os desafios associados e ganhar uma melhor capacidade de resposta aos mesmos.

4. Como é que a gestão territorial e as Smart Cities podem melhorar a qualidade de vida da população?

Interpreto esta questão no sentido de se perceber como é que um ambiente Smart City pode contribuir para uma melhor gestão do território. Assim, temos de ter presente que o propósito da gestão territorial, naquilo que é planear e operacionalizar ocupação e usos do solo, as suas funções, a programação de equipamentos e instalação de serviços, é mesmo esse – garantir que a população tenha um acesso democrático e eficiente a um conjunto de bens e serviços que satisfaçam as suas necessidades mais básicas. Ou seja, no sentido lato da palavra, garantir qualidade de vida à população. Para que essa gestão seja eficaz, deve assentar num conhecimento profundo das características do território, mas também, e principalmente, deve conhecer os comportamentos e necessidades da população, por forma a assegurar que as mesmas são garantidas.

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Uma gestão do território assente num ambiente Smart City acaba por facilitar essas tarefas de diagnóstico. Aliás, é com esse propósito que se tem evoluído neste âmbito, aproveitando o desenvolvimento de novas tecnologias para se obter mais dados e melhor informação sobre a cidade e o cidadão, potenciando a capacidade de analítica urbana. E, na minha opinião, uma equipa municipal melhor informada e ciente dos problemas, consegue decidir e atuar de uma forma mais assertiva na resolução dos mesmos.

O objetivo central da implementação de uma Smart City é promover e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

5. O desenvolvimento sustentável e as Smart Cities estão relacionados? De que modo?

Sim, há de facto uma relação entre ambos, até porque o objetivo central da implementação de uma Smart City é promover e contribuir para o desenvolvimento sustentável, principalmente naquilo que é aumentar a eficiência energética e reduzir as emissões de gases poluentes. A verdade é que já há várias décadas que se discute a necessidade de termos uma sociedade que opta por um crescimento mais sustentável, com respeito pelo meio ambiente, com uma gestão eficiente dos recursos e sem comprometer as gerações vindouras. Contudo, só recentemente, e a propósito da crise climática, é que estas preocupações entraram nas agendas políticas e, como tal, aumentou a procura por soluções concretas que ajudem a minimizar os problemas.

Assim, também não se pode ignorar o facto de, nos últimos anos, se ter assistido a um grande desenvolvimento tecnológico. Este facto tem potenciado a criação de soluções inovadoras, que permitem uma utilização mais eficiente dos recursos e que podem ser aplicadas ao nosso dia-a-dia. São estas soluções que promovem a transição digital da sociedade, que têm sido transpostas para as cidades e que permitem que se possa implementar uma Smart City a fim de se obter um desenvolvimento sustentável.

6. Como é que se encontra o desenvolvimento das cidades inteligentes em Portugal?

Esta questão é bastante pertinente, ainda para mais pois estou a responder dias após o falecimento do Dr. Almeida Henriques, um autarca que desempenhou um papel preponderante na promoção e discussão do tema em Portugal e que deve ser referenciado por isso. A verdade é que, apesar de existir um conjunto de municípios portugueses que tomaram a iniciativa de criar a sua estratégia e implementar um conjunto de soluções tecnológicas, de existir uma rede portuguesa de cidades inteligentes e o Cluster Smart Cities Portugal, estrategicamente ainda não existe em Portugal uma visão comum, com objetivos concretos, assim como um plano de ação que suporte a implementação de cidades inteligentes ao nível local.

Temos assistido, nos últimos tempos, a iniciativas pontuais de algumas cidades portuguesas, sendo até relativamente fácil identificar os municípios líderes neste âmbito, o que é de realçar, pois têm contribuído para o desenvolvimento de tecnologias e para o teste das soluções. Contudo, as sinergias geradas não estão a ser absorvidas por outros e a partilha de experiências é bastante limitada. Assim, diria que neste momento se perfilam alguns desafios para o sucesso destas iniciativas em Portugal, entre os quais a necessidade de se definir um quadro de interoperabilidade e princípios comuns entre municípios, de planear as soluções de forma integrada, de otimizar o investimento público associado à aquisição dos sistemas inteligentes e escalar os projetos-piloto de pequena escala para outros territórios. Apesar destes desafios, é expectável que, nos próximos anos, até pelas oportunidades que a política estrutural europeia irá trazer, os municípios apostem no desenvolvimento de uma cidade inteligente.

O grande progresso surge com a evolução da Internet of Things (IoT).

7. Como acha que serão as cidades do futuro?

Às vezes é um exercício complicado de fazer, pois em Portugal não assistimos de forma tão intensa aos fenómenos de urbanização, até porque grande parte do território português está em declínio demográfico e o crescimento das áreas metropolitanas não é tão evidente. Contudo, os exemplos que temos atualmente de megacidades espalhadas um pouco por todo o mundo e da rápida urbanização que se tem verificado nas cidades asiáticas mostram que não têm existido limites à capacidade do ser humano em desenvolver e inventar cidade. A juntar a isso, temos as projeções das Nações Unidas que apontam para um cenário de 68% da população mundial residir em áreas urbanas até 2050, ou seja, iremos ter uma grande densidade populacional nesses locais, à qual se associa uma grande demanda por recursos e a produção significativa de resíduos.

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É importante ter presente que as cidades são sistemas bastante dinâmicas e, com o que já se assiste atualmente, acredito que o futuro nos traga cidades mais avançadas ao nível das infraestruturas físicas e tecnológicas, permitindo uma maior interação entre o cidadão e o meio que o envolve. Pelo contrário, e mantendo-se as dinâmicas atuais, também perspetivo que se irá assistir ao acentuar das assimetrias sociais entre os residentes e ao surgimento de importantes desafios para a gestão das áreas urbanas, seja ao nível da mobilidade, do consumo energético e da gestão de resíduos. Agora, enquanto sociedade, somos mais conhecedores destas realidades e dos desafios a que estão expostas as grandes cidades e, como tal, devemos ambicionar à inversão das tendências evidenciadas, promovendo cidades mais verdes, descarbonizadas e inclusivas.

8. Como é que as novas tecnologias contribuem para uma melhor eficiência na gestão das áreas urbanas?

Atualmente existem vários exemplos de sucesso da aplicação das novas tecnologias para apoiar a gestão das áreas urbanas. São estas soluções tecnológicas, integradas em ambiente de cidade inteligente, que têm contribuído para fornecer serviços mais eficientes aos cidadãos e para monitorizar e otimizar as infraestruturas existentes. Contudo, o grande progresso surge com a evolução da Internet of Things (IoT), onde os objetos físicos ganharam capacidade de coletar e de transmitir dados.

Para a gestão das áreas urbanas, a capacidade de obter dados concretos dos vários elementos físicos presentes no território foi preponderante. Isto porque a gestão passa muito pela monitorização dos sistemas, pela avaliação do seu desempenho e pela tomada de decisão para o tornar mais eficiente e, como tal, está dependente de dados e de informações precisas. Com a evolução tecnológica aumenta a capacidade de coletar e gerir um maior volume de dados, de obter informação sobre os sistemas urbanos de forma regular e precisa, o que permite tomar decisões melhor fundamentadas e atuar na gestão da cidade de forma mais adequada. É a partir deste momento que se gera um novo paradigma nas equipas de gestão municipal, levando à criação dos primeiros centros de inteligência e operação urbana.

O êxito da implementação de uma cidade inteligente passa pela aceitação das tecnologias pelo cidadão.

9. Sendo a PARTTEAM & OEMKIOSKS uma empresa que tem a possibilidade de produzir mupis digitais, quiosques multimédia e outras soluções tecnológicas para cidades inteligentes, e sendo o sector do marketing e da publicidade o que tem maior potencial para adoptar estes equipamentos, qual é o contributo deste sector para as Smart Cities?

Quando surgiu o convite da PARTTEAM & OEMKIOSKS para discutir esta temática, inevitavelmente tive de analisar os vossos produtos e, de facto, apresentam soluções muito interessantes para a implementação de um sistema Smart City. As vossas soluções ganham particular relevância neste contexto, pois asseguram o contacto entre as pessoas e o sistema, ou seja, são facilitadores do acesso ao meio digital. E isso é uma componente fundamental de um projeto deste tipo. Aliás, anteriormente não tive a oportunidade de referir, mas o êxito da implementação de uma cidade inteligente passa pela aceitação das tecnologias e da colaboração para o desenvolvimento das mesmas por parte do cidadão.

Relativamente à questão concreta, importa referir que o setor do marketing e da publicidade é um dos setores que beneficia diretamente da partilha de dados dos utilizadores, conseguindo acumular informações sobre as suas rotinas, preferências, hábitos de compra e comportamento geral dos cidadãos, permitindo ações publicitárias mais dirigidas e a resposta, de forma mais concreta, aos anseios do consumidor. Noutro prisma, também tem a capacidade de entregar mensagens aos cidadãos e/ou potenciais clientes em qualquer lugar, a qualquer momento, através de qualquer meio que tenha um visor.

Neste âmbito, há um assunto do qual não se pode fugir e que passa pelas questões de privacidade. Sendo a confiança um pilar vital do sistema da cidade inteligente, é importante que exista, por parte das empresas que recolhem os dados, uma utilização cuidada dos mesmos, mantendo o cidadão confortável em relação à utilização dos seus dados.

Por fim, e a propósito da propriedade dos dados, importa também referir que a partilha de informação com as autoridades de gestão da cidade é fundamental, pois só num ambiente colaborativo se poderá alcançar uma gestão eficiente da cidade. Por isso, diria que o principal contributo que este setor pode dar para a implementação das Smart Cities passa por assegurar a confiança do utilizador e a partilha de informação.

Connecting Stories é um espaço editorial conduzido pela PARTTEAM & OEMKIOSKS que consiste na realização de entrevistas exclusivas, direccionadas a personalidades influentes, que actuam em diferentes sectores de actividade.

O projecto, idealizado pela PARTTEAM & OEMKIOSKS, contempla a publicação de histórias de sucesso, por meio de pequenas entrevistas a influenciadores que queiram compartilhar detalhes sobre os seus projectos, opiniões, planos para o futuro, entre outros assuntos.

A ideia é conectar histórias, partilhar conhecimento, desenvolver networking e gerar conteúdos que possam fornecer novas visões, oportunidades e ideias.

Sobre a PARTTEAM & OEMKIOSKS

Fundada em 2000, a PARTTEAM & OEMKIOSKS é uma empresa portuguesa de TI mundialmente reconhecida, fabricante de quiosques multimédia de interior e exterior, equipamentos self-service, mupis digitais, mesas interactivas e outras soluções digitais, para todos os tipos de sectores e indústrias. Para saber mais acerca da nossa história, clique aqui.

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