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Jorge Saraiva - DigitalTown

Jorge Saraiva

Vice Presidente para a Europa da DigitalTown

Sendo um dos “evangelistas” mais activos das Smart Cities, Jorge Saraiva é um dos convidados especiais da série Connecting Stories da PARTTEAM.

Especialista com vasta experiência internacional em tecnologias de informação no sector público e privado, Jorge Saraiva já foi director de grandes multinacionais do sector como Infor, IFS e Exact.

Neste momento, Jorge Saraiva é o Vice Presidente da multinacional norte americana DigitalTown e lidera o projecto Smart.London.

Conheça em exclusivo, a história de Jorge Saraiva e da empresa DigitalTown.

1. Quem são, como surgiu e o que fazem ?

A DigitalTown é uma empresa cotada na bolsa e sediada em Seattle nos EUA. Fundada em 1980, é um dos líderes de Mercado em soluções de eGovernance (de acordo com o top100 da GovTech).

Nos últimos 3 anos, a DigitalTown fez uma remodelação radical na sua estratégia rumo às Smart Cities.

Fruto da sua experiência na digitalização de administrações locais (leia-se: Câmaras Municipais), a DigitalTown constatou, na primeira fila, a mudança de paradigma na qual as Câmaras Municipais estavam a abandonar a tradicional abordagem “Top-Down” (onde o Município decide e os cidadãos são apenas utilizadores), para se transformarem numa espécie de plataforma que permite aos cidadãos co-criarem soluções na cidade e para a cidade.

Face a esta mudança de paradigma (integrada no conceito Smart City), a DigitalTown investiu fortemente em integrar o cidadão como o ponto de partida e o centro de qualquer estratégia de digitalização de uma cidade.

Surge assim a plataforma da DigitalTown que além de apoiar e incentivar as comunidades locais (área usualmente conhecida por Smart Citizens) oferece às cidades a possibilidade de proceder a uma transformação digital de todos os negócios, unificando-os numa só plataforma, a da cidade (área conhecida por Smart Economy) transformando a cidade num destino digital da mesma forma como o é fisicamente (também conhecido por Smart Destination).

Para desenvolver esta plataforma tão complexa, a DigitalTown adquiriu sete empresas tecnológicas nos últimos dois anos.

2. De que forma a DigitalTown contribui para o desenvolvimento das Smart Cities ?

Quase três anos após a adopção deste novo rumo estratégico, a DigitalTown é hoje líder mundial em plataformas cooperativas para cidades.

É exactamente neste ponto que reside o perigo e o valor acrescentado da DigitalTown: as plataformas digitais !

É um dado adquirido que a economia está a digitalizar-se: 85% das reservas de hotéis são feitas online, as compras pela internet crescem cerca de 23% ao ano e 54,4% da população global tem hoje acesso à rede das redes.

O Mercado está online. Por isso, nesta corrida ao ouro, quem mais factura são os vendedores de pás e picaretas. Principalmente quando estes emprestam os utensílios em troca de percentagem do ouro encontrado.

É exatamente o que se passa com as plataformas digitais como Amazon, Uber, Airbnb e etc... Até chegar o dia em que todos nós estamos naturalmente, estas plataformas reinarão. Não porque adicionam algum valor na cadeia mas porque tiram proveito do baixo nível de digitalização dos negócios e dos meios.

"É exatamente o que se passa com as plataformas digitais como Amazon, Uber, Airbnb..."

Por isso, estas plataformas se vangloriam de serem, por exemplo, a maior empresa de Táxis sem terem um único veículo.

O problema é que estas organizações levaram para um nível insustentável o paradigma da economia extrativa. Porque estas plataformas retiram dividendos da economia local para as suas sedes, não pagando impostos proporcionalmente nem gerando empregos e, à medida que as mesmas vão atingindo o monopólio, utilizam essa força negocial para escravizar as economias locais.

No fim, quem perde são as cidades ! Quem perde são as pessoas. Em cidades grandes, onde este fenómeno ganhou uma escala incontrolável são disso testemunhos.

Nestas, o airBnB já não permite ganhar “uns cobres” com o quarto de hóspedes. As casas do centro disponíveis no AirBnB pertencem a investidores do ramo e os Ubers pertencem a organizações de rent-a-car.

O empobrecimento das cidades e a precariedade da população causadas por este modelo de negócio extractivo não se combate com leis nem licenças. Mas tem sido essa a forma utilizada pelas cidades e os respetivos governos locais.

Londres cancelou a licença da Uber em Setembro do ano passado e Amsterdam foi pioneiro em limitar os alugueres por via do AirBnB. Muitas cidades replicaram iniciativas semelhantes.

Estas iniciativas demonstram duas coisas: a primeira é que as cidades (e respetivos governos) ainda não sabem viver no mundo digital resultando que, as formas tradicionais de lidar com os problemas e de proteger as populações, não funcionam no futuro digital.

Da mesma forma como as cidades planeiam e organizam a sua estrutura física, permitindo aos seus cidadãos trabalharem, consumirem, empreenderem e prosperarem devem agora, na era digital, desenvolver um plano semelhante para a sua cidade se deseja que esta prospere!

A forma para as cidades prosperarem na era digital é criarem uma plataforma digital cooperativa onde os cidadãos, os negócios locais e os múltiplos stakeholders são accionistas. É uma transformação digital da cidade adoptando os princípios do “capitalismo partilhado” em detrimento do “capitalismo corporativo”.

As cidades que não se transformarem digitalmente serão as vítimas da era digital. Tal como já aconteceu com eras anteriores (industrial e agrícola)

Com a visão de um futuro baseado no “capitalismo partilhado” onde as cidades inteligentes prosperam através de plataformas cooperativas, a DigitalTown adquiriu 23.000 cidades .city (como Famalicão.city) instalando nestes a sua plataforma que depois disponibiliza às cidades. Assim, a DigitalTown não se promove como marca… As marcas que promove são as próprias cidades quando estas integram a rede da DigitalTown.

O processo da DigitalTown é simples: utilizando o BlockChain como motor que garante a confiança e transparência pela automação, em cada cidade, desenvolve uma cooperativa PPPP (Parceria Público, Privada e com as Pessoas!) onde todos são accionistas da versão digital da cidade!

Desta forma, a cidade adopta um posicionamento digital com a vantagem que as receitas geradas na cidade são reinvestidas na cidade fazendo a mesma prosperar.

O impacto da DigitalTown numa cidade mede-se pelo aumento da qualidade de vida e prosperidade económica.

3. Iniciou a sua actividade profissional em Smart Cities em 2012. Fale-nos um pouco sobre a sua jornada e sobre a sua experiência profissional. Qual é o seu interesse nesta temática ?

A minha actividade em Smart Cities começou num evento em Amsterdão conhecido como Social Cities. Tratou-se de um evento bottom-up de “creativistas” contra a forma como as Smart Cities estavam a ser implementadas. A mensagem deste evento era clara: só podemos desenvolver uma Smart City se envolvermos os cidadãos na co-criação das soluções. A alternativa são milhões de investimento inutilizáveis.

Além de pessoas ligadas às tecnologias, arquitectos, urban planners, sociólogos, antropólogos e presidentes de câmaras marcaram presença no evento que se desejava ser de construção e não de intervenção.

Deste evento, nasceu um movimento que hoje lidera algumas cidades, nasceram projectos que deram origem às cidades mais Smart como Eindhoven que liderou o ranking dois anos depois e nasceu uma startup: engagecitizen que foi a primeira plataforma de co-criação e de citizen engagement propriamente dita.

O meu interesse nas Smart Cities são as pessoas! O futuro depende das pessoas a todos os níveis (económico, social e político) logo, uma cidade deve ser uma plataforma comunitária. As cidades têm de se tornar em ecossistemas colaborativos de forma a prosperar. As tecnologias, são catalisadores da mudança mas não são a mudança! A inteligência está nas pessoas e não nas tecnologias.

Contudo, as plataformas que desenvolvo conectam as pessoas em torno de valores e ideias originando uma inteligência colectiva!

Jorge Saraiva - DigitalTown

4. Explique-nos o que entende por Smart City e de que forma a modernização dos serviços públicos ampliam a interacção da sociedade civil ? Como é que se encontra o desenvolvimento das Smart Cities em Portugal e no Mundo ?

Ao longo da minha carreira nesta indústria pude observar muitas fases distintas: no início, as Smart Cities eram nada mais do que utilities (lâmpadas led, autocarros elétricos e sensores), numa segunda era tornou-se serviços (eGov, centros de controlo das cidades e etc...).

Foi nesta altura que se deu o evento em Amsterdão: as cidades investem milhões em grandes fornecedores para adivinhar o que seria melhor para as pessoas em vez de perguntarem às pessoas que tinham no seu iPhone maior poder de computação que a NASA quando enviou um homem à lua.

A partir daí, as cidades abriram-se à população surgindo uma terceira era mais participativa.

Hoje, estamos a entrar num novo paradigma. O futuro não pertence às corporações industriais mas aos ecossistemas criativos e inovadores, ou seja, as cidades depende das pessoas e das suas capacidades pois a indústria do futuro não é a indústria da mão-de-obra barata (esse vai ser robotizado!) mas é o futuro das indústrias criativas. Assim, as cidades que prosperam são as que atraem talentos para inovar!

O novo paradigma de Smart Cities para os serviços públicos é transformarem a cidade numa plataforma de colaboração.

Veja o caso de NEOM: um investimento de 500 mil milhões (equivalente ao que Portugal produz em cinco anos!) para construir uma cidade para os seres humanos mais brilhantes do planeta!

Portugal, no que concerne a Smart Cities, é um país com realidades muito díspares: somos um dos países do mundo com maior proliferação de Orçamentos Participativos mas também somos um dos países mais abusivos em políticas centralizadoras. Economicamente, temos um elevado número de “instituições” que potenciam a nova economia através de inúmeras incubadoras e estruturas semelhantes criadas pelos próprios municípios mas temos enormes dificuldades em desenvolver ecossistemas colaborativos nas cidades.

Numa das minhas crónicas na revista Smart Cities, identifiquei as três gerações de autarcas: os que tratam os cidadãos como meros utilizadores das suas políticas, os que consultam os cidadãos incentivando-os a participar e dar a sua opinião e os que organizam a cidade para serem os cidadãos a co-criarem as soluções. Em Portugal temos os três tipos de autarcas no activo.

Em suma, as Smart Cities dependem de Smart Mayors mas também de Smart Citizens! É um caminho a dois… Da mesma forma que os autarcas nacionais devem desenvolver um plano de Smart City focado na prosperidade da cidade e das pessoas, a população também deve colaborar para apoiar os autarcas na melhoria do bem comum: a cidade.

No entanto, por entrar tarde, Portugal tem aqui a possibilidade de adotar o mais recente paradigma e ultrapassar outras cidades na curva do desenvolvimento Smart. Basta para isso ter a inteligência de aprender com os erros dos outros!

5. As cidades inteligentes já não são uma coisa do futuro e não se limitam às grandes capitais. Qual é a sua opinião sobre esta afirmação.

Concordo em pleno! Os desafios não são apenas para as capitais mas para todas as cidades ou regiões. A competição no futuro não vai ser entre países (com comunidades económicas e moedas transnacionais fará sentido falar em países a competir economicamente?).

No futuro, cerca de 80% das pessoas irão viver em ambientes urbanos logo as cidades competirão entre si. Mas esse futuro é hoje! Em Portugal, a população urbana representa hoje 44% da população total!

As capitais, contudo, estão mais avançadas neste contexto. Lisboa incluída! Mas é neste ponto que surgem as vantagens de meios mais pequenos.

Ao contrário das grandes capitais, os meios mais pequenos ainda não foram invadidos nem são vítimas da economia extrativa (ainda!). Logo, não têm problemas para limpar mas apenas a oportunidade de criar a solução! Um avanço inestimável para muitas cidades…

Curiosamente, as cidades nórdicas e as de média dimensão na Europa Central (destacando-se a Holanda, Áustria e Luxemburgo) definiram como prioridade essa construção sendo hoje inestimáveis polos de aprendizagem das grandes.

Novamente, não encontramos Portugal nessa tendência mas ainda está muito a tempo. Desde que não cometa os mesmos erros e contratempos dos seus conterrâneos europeus.

6. Sabendo que a PARTTEAM tem a possibilidade de produzir mupis digitais, quiosques self-service e outras soluções tecnológicas para Smart Cities, perguntamos qual é a sua opinião sobre a empresa PARTTEAM.

Mais do que a sua capacidade de produção, a PARTTEAM tem uma fantástica capacidade de criação e desenvolvimento não só de produtos mas de parcerias estratégicas. Este é o DNA da empresa e a razão do seu sucesso.

No caso particular de Smart Cities, esta forma de estar tem uma particular relevância. Nesta indústria não é compatível com o paradigma de desenvolver uma marca e corporação que impinge produtos para o consumo. Smart Cities é um meio de parceria com as cidades e co-criação com as populações... Não é a marca mas a cidade e o impacto causado nesta que define a qualidade das soluções!

Por essa forma de estar, a PARTTEAM é um aliado natural na inovação quer do mobiliário urbano quer acima de tudo na comunicação interactive com o cidadão. Daí o future risonho da PARTTEAM na indústria de Smart Cities!

Connecting Stories é um novo espaço editorial conduzido pela PARTTEAM & OEMKIOSKS que consiste na realização de entrevistas exclusivas, direccionadas a personalidades influentes, que actuam em diferentes sectores de actividade.

O projecto, idealizado pela PARTTEAM & OEMKIOSKS, contempla a publicação de histórias de sucesso, por meio de pequenas entrevistas a influenciadores que queiram compartilhar detalhes sobre os seus projectos, opiniões, planos para o futuro, entre outros assuntos.

A ideia é conectar histórias, partilhar conhecimento, desenvolver networking e gerar conteúdos que possam fornecer novas visões, oportunidades e ideias.

Sobre a PARTTEAM & OEMKIOSKS

Fundada em 2000, a PARTTEAM & OEMKIOSKS é uma empresa portuguesa de TI mundialmente reconhecida, fabricante de quiosques multimédia de interior e exterior, equipamentos self-service, mupis digitais, mesas interactivas e outras soluções digitais, para todos os tipos de sectores e indústrias. Para saber mais acerca da nossa história, clique aqui.

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